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Tunísia: há 10 anos, a revolução de Jasmim iluminava o cenário político do país mas não a democracia

Foi em dezembro de 2010, mais precisamente na cidade de Sidi Bouzid que um vendedor ambulante ateou fogo ao próprio corpo após ter o seu carrinho de verduras confiscado pelas autoridades locais. A imagem do homem se auto imolando percorreu o mundo e chocou a Tunísia, ele sobreviveu por alguns dias, com 90% do corpo queimado, mas foi através do seu perigoso protesto que ele deixou um pouco de gasolina escorrer e chegar a um barril de pólvora, prestes a explodir e que, sem a menor sombra de dúvida, se tornaria em um dos acontecimentos mais marcantes do século XXI.


Centenas de manifestantes, a maioria jovens, foram às ruas do país para se solidarizar com a recente morte do vendedor, Mohammed Bouazizi, e alguns aproveitaram o momento para fazerem críticas e pedir a queda do então ditador Zine Abidine Ben Ali, no poder há 23 anos e com um longo histórico de desrespeito aos direitos humanos, Ben Ali, como era conhecido, ordenou que militares e policiais fossem às ruas agredir os manifestantes que estavam ali pacificamente.


Ben Ali tinha esperanças de acabar com os protestos duradouros e permanecer ainda mais tempo no poder, porém nem suas alianças com o ocidente e nem a sua proteção ao exército resistiram a tanta fúria e gritaria. Ele abdicou o cargo, fugiu para a Arábia Saudita com a família e deixou o país sem ao menos pagar pelos seus crimes.


Ben Ali chegou ao poder em 1987 através de um golpe de estado e alegou que o antigo presidente do país tinha incapacidade mental de conduzir o cargo, ele chegou a convencer o próprio tribunal tunisiano das afirmações. Seu regime até chegou a conceder liberdade de imprensa, abertura política, manifestações e passeatas nos primeiros anos de governo, porém, em 1991, tudo isso acabou e Ben Ali transformou o seu próprio país em uma terrível ditadura. Ele faleceu em Setembro de 2019, na Arábia Saudita.


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Hoje, dez anos depois, o país ainda permanece instável mas com alguma esperança no campo político. Existem protestos entre partidários do antigo regime de Ben Ali e pró revolucionários. A pauta das atuais manifestações é o desemprego e a falta de serviços bem remunerados, Só nas cidades mais pobres da Tunísia, a taxa varia entre 16 à 18%. Dados de ONGs tunisianas afirmam que só no último ano (2020), cerca de 12 mil pessoas deixaram o país em busca de uma vida melhor no continente Europeu.


A Tunísia foi o único país que participou dos protestos da Primavera árabe onde tudo terminou em uma "democracia" mas que ainda não permite uma reforma na constituição antiga da nação e muito menos, aceita debater sobre liberdade de imprensa já que ainda parece na posição 72 entre os 180 países que mais restringem a liberdade de mídia, mas pasmem, o Brasil em um último ranckeamento apareceu na posição número 107.


O novo governo tunisiano é a prova disso. Hoje quem assume o cargo é Kais Saied, um conservador fundamentalista que não aceita por exemplo, debater sobre desigualdade de gênero e repatriação de cidadãos que querem retornar à Tunísia depois da primavera árabe. Saied deseja que as forças militares intervenham no regime, caso necessário, e não gosta de ser entrevistado, ou seja, mudou tudo para não mudar nada dentro do espaço democrático do país. Será mesmo que as manifestações de 2010 foram em vão?



O vendedor Mohammed Bouazizi no hospital após se auto imolar em frente a uma multidão. À esquerda da foto aparece o presidente Ben Ali, em sua última visita pública antes da onda de protestos.

Fonte: EFE/ EL PAÍS



Zine Abidine Ben Ali foi um militar que permaneceu no poder de 1987 à 2010.

Fonte: AFP



A Economia tunisiana teve um alívio no fim do ano passado mas voltou a dever para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o PIB do país teve uma queda de 7% em 2020 e com isso, somou o pior balanço de sua história desde sua independência em 1956.


A presença militar no país claro, se tornou mais marcante porém nada indica que o Benalismo poderá voltar em tão pouco tempo. A população permanece cultivando fantasmas do passado mas ainda reserva esperanças de que o país poderá alcançar uma verdadeira democracia daqui alguns anos. A desigualdade social ainda assola os tunisianos e faz com que o analfabetismo bata recordes até mesmo em regiões consideradas "ricas", as mulheres perderam mais direitos do que conquistaram nos últimos trinta anos e o radicalismo religioso cresceu consideravelmente uma vez que é no vazio de poder que grupos extremistas se aproveitam para tentar impor suas idéias na população mais abatida.


Assim como a Líbia, Egito e Iêmen, a Tunísia conseguiu tirar um líder do poder mas pagou um preço com isso, era o que muitos esperavam, porém até que ponto? será que valeria mais a pena seguir com o Benalismo ou mudar toda a sua forma de governo para trazer mais um ditador ao poder, dessa vez, um mais moderno e conquistador da extrema direita?


Por: Lybia Abaaoud/ Beatriz D'angelo



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