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"Se a rua Beale falasse" e o racismo explícito na sociedade americana

Um clássico do diretor americano Barry Jenkins, indicado ao Oscar 2019 e um dos muitos filmes que retratam o racismo nos EUA, "Se a rua Beale falasse" conta a história de Tish Rivers, uma jovem de 19 anos que, mesmo grávida, procura de todas as formas possíveis, provar a inocência de seu namorado que foi preso injustamente.

Parece mais uma mera história de romance e dificuldade que passam algumas pessoas em um país com uma enorme desigualdade social e racial, porém, Se a rua Beale falasse faz uma crítica feroz ao convencionalismo da sociedade e dos governos norte americano ao inocentaram sempre os brancos corruptos e condenarem sempre os negros muitas vezes inocentes. Não adianta nos comovermos com o filme e seu final amargo se não abrirmos os olhos para um problema que afeta não só os EUA, mas também o Brasil. Só em 2018, o DEPEN ( departamento penitenciário nacional ) informou que 61% da população carcerária no Brasil é negra ou parda, enquanto muitos deles foram presos sem uma prova sequer e somente 75% tem o ensino fundamental completo, isso em um país majoritariamente formado por pretos/pardos e onde apenas 17% deles concluem um ensino superior, ou seja, têm a chance de se tornarem universitários.

No momento, o filme corresponde a várias críticas que tomaram os noticiários nas últimas semanas após o assassinato covarde do afro-americano George Floyd, que morreu após ter sido sufocado por um policial branco em Mineápolis, nos EUA. Com as imagens que arrasaram a internet no dia 25 de maio, milhares de pessoas foram às ruas protestarem contra o racismo, a intolerância e contra o abuso de poder por parte da polícia. O brasil se juntou à onda protestante nos últimos dias e lembrou a morte e as prisões injustas de muitos jovens negros que tiveram, ou quase, o mesmo destino do carismático George Floyd, hoje, símbolo da luta anti racista nos Estados unidos.

É importante lembrar que não é a primeira vez que protestos ou grandes marchas como essas acontecem em detrimento de atitudes racistas nos EUA. Em março de 2018, policiais da Califórnia fuzilaram um jovem negro de apenas 22 anos depois que o celular dele foi "confundido" com uma arma, a morte do rapaz gerou uma onda de protestos em várias cidades americanas naquele ano ( https://g1.globo.com/mundo/noticia/policia-mata-homem-negro-armado-com-celular-na-california.ghtml ).

Em 2016, após uma batida de trânsito acidental, um policial branco assassinou um homem negro no estado de Minnesota, nos EUA, novamente, a violência sem explicação atiçou a indignação da populaçaõ americana que foi às ruas e protestram por dias contra esse tipo de crime, por parte da policia ( https://agenciabrasil.ebc.com.br/internacional/noticia/2016-07/morte-de-homem-negro-pela-policia-esta-provocando-indignacao-e ).



os protestos mundiais receberam o nome de "I can't breath" ou "não consigo respirar", uma das últimas palavras ditas por George Floyd antes de morrer.

Foto: AFP


Dados de pesquisa do Mapping Violence in USA revelam que só em 2019, a polícia americana matou 1099 pessoas no país, sendo que 24% delas eram negras e pobres. O mapa da violência, com a ajuda de especialistas em segurança pública, ainda mostra que os negros têm 3 vezes mais chances de serem assassinados do que pessoas brancas nos EUA.

Com números tão alarmantes e ao mesmo tempo surpreendentes, a importância desses protestos e destas mobilizações é muito grande, pois sinto que é uma mensagem sendo explicitamente repassada ao mundo de que as pessoas do século XXI já não toleram mais racismo, humilhações e muito menos abuso de poder, algo antes normalizado em uma sociedade de classes que está sempre subjugando o diferente, a minoria. A mídia, com o poder que tem hoje, ajudou a alavancar essas manifestações e mobilizar os próprios jornalistas contra o racismo, exemplo disso foi a pauta da Globonews na última semana que contou com a participação de comunicadores negros que relataram suas experiências com o racismo, mesmo no campo profissional.

Acredito que tudo isso não é apenas uma fase, é a história sendo feita, talvez uma revolução que agora vai estar sempre a questionar o papel do estado na luta pela equidade e pela justiça, o mesmo estado que diz propagar uma coisa e acaba somente por privilegiar outra.

Nelson Mandela, outro símbolo da luta anti racista mundial, dizia que: "ninguém nasce odiando uma pessoa pela cor dela, pela origem ou pela religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender". Uma breve reflexão que todos podemos fazer ao invés de apenas acreditarmos que brancos matam porque querem, mulheres apanham porque pedem ou porque a policia mata porque não presta. Enquanto vivermos em uma sociedade implicitamente segregacionista, como é o nosso caso, só vamos aprender a lidar com isso aos poucos, quando formos desconstruindo o que a velha sociedade "tradicional" aplicou como "valores, moral e ética" e esperava que fossemos manter isso nos dias de hoje. A pergunta é, até quando aceitaremos viver em uma auto escravidão?



Por: Beatriz D'angelo/Lybia Abaaoud


Materiais de apoio:

Link do filme dublado:


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