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Guerra na Ucrânia: a neglicência perante conflitos Não-Brancos e a Russofobia gritante no Ocidente

Desde o dia 24 de fevereiro não escutamos ou vemos outra coisa na mídia a ser que "A Rússia está atacando violentamente a Ucrânia" e muitos refugiados já estão deixando o país rumo a outras nações européias, visando salvar suas famílias e a si próprios. Os ucranianos receberam tratamento Vip ao chegarem nas fronteiras da Polônia, Moldávia e Romênia, e já mobilizaram todo o bloco europeu para abrirem rapidamente suas fronteiras e formarem abrigos que possam assentar as famílias que estão fugindo do conflito.


Do outro lado do mundo, mulheres russas vem virando motivo de chacota por homens ditos "civilizados", restaurantes e clubes russos foram fechados e boicotados e pessoas originárias do maior país do mundo estão sendo injustamente atacadas nas ruas, nos estabelecimentos comerciais e na internet, onde comentários como "Fora do meu país", "Russos mald***" e coisas do tipo vem se tornando extremamente aceitáveis e comuns. Isso lembra alguma coisa?


Bom, tirando a cor da pele e o fato dos russos serem em sua maioria, cristãos, o ódio e o sentimento de vingança são os mesmos que aqueles sentido pelos refugiados árabes e africanos, quando o assunto era terrorismo e violência, nenhum deles era poupado de tamanha agressividade com a qual agiam políticos de extrema direita e grupos neonazistas que promoviam propagandas anti-islâmicas em ruas movimentadas de grandes capitais européias, atendendo assim, o pedido e o desejo de imperialistas, cidadãos de bem e pessoas que sentem uma fobia terrível de perder sua cultura e seus valores para aqueles "bárbaros".


Em Manhattan, NY, donos de restaurantes russos relataram ameaças e ataques pessoais que vem sofrendo há duas semanas, alguns até resolveram fechar seu negócio por medo, aqui no brasil, pessoas de origem russa já fizeram boletins de ocorrência ao serem expostas nas redes sociais e também sofrerem ameaças por pessoas que muitas vezes, nem sabem o que está acontecendo no Leste Europeu. Sim, essas foram as mesmas reações que árabes e muçulmanos também sofreram há um tempo atrás logo após a série de ataques terroristas que arrasaram países da Europa ocidental.


O problema maior disso tudo é o efeito "Agenda Setting" da nossa mídia que seleciona notícias mais quentes para serem abordadas, enviam muitos correspondentes para a zona de conflito e dedicam quase que o dia todo seu telejornal ou veículo para tratarem daquela desgraça que ocorre em alguma nação branca, cristã e européia. Você ainda duvida? É justo pesquisar como são tratadas as guerras que acontecem em países como Síria, Iraque, Somália, Congo ou até o Iêmen, aliás, quando foi a última vez que você ouviu falar sobre o iêmen em algum lugar?... países que foram colonizados, que sofrem há décadas com pobreza, fome e conflitos violentos mal são motivos de comoção nas redes sociais ou na mídia, que inclusive nem sabem qual é a bandeira de cada país desse que citei acima. Porém hoje todos sabem o que significa aquela bandeira azul e amarela...


Assim que a questão dos refugiados ucranianos entrou em pauta, jornalistas de veículos como CBS news (dos EUA), Al Jazeerah (com sede na Inglaterra) e da britânica ITV, deram um show de racismo e xenofobia ao falarem de assunto tão delicado como o que está acontecendo na Ucrânia. Um deles se referiu ao conflito como "Este não é um lugar, com todo o respeito, como o Iraque ou o Afeganistão, que tem visto conflitos violentos há décadas. Esta é uma cidade relativamente civilizada, relativamente europeia, cidade onde você não esperaria isso", disse ele no ao vivo.


Uma outra comentou:

"Agora o impensável aconteceu com eles, e isso aqui não é um país em desenvolvimento, do Terceiro Mundo, isso aqui é Europa"


A estatal inglesa BBC entrevistou ao vivo o ex-procurador-geral ucraniano, David Sakvarelidze, que se diz “emocionado” por estar vendo “um povo europeu, de olhos azuis e cabelos loiros, ser morto”, no que recebe um afago do âncora inglês que diz “entender e respeitar a emoção” do político. Talvez não por acaso Sakvarelidze ascendera ao cargo após golpe de estado de 2014 promovido pelos Estados Unidos conhecido como Euromaidan.


Além de preocupante e lamentável, esse tipo de discurso rodou as redes sociais e motivou muitos seguidores a repensarem o que esses conflitos em países de "terceiro mundo", como afirmou um dos jornalistas, tem em comum com a Ucrânia e quais as diferenças no tratamento abordado a esses mundos, infelizmente separados pela cor da pele e pela religião.


Meu ponto é que precisamos tratar urgentemente de deixar a hipocrisia de lado e solucionar conflitos de longas datas para evitar um exôdo de refugiados cada vez maior, precisamos de alternativas para depor regimes autoritários e também proporcionar a paz de um povo, não procurar fechar os olhos para países que são constantemente invadidos por "poderosos" e achar que o acontece nesses lugares é somente algo motivado por "uma força maior", como se um Messias fosse bombardear esses incivilizados pelos ares e fazer com que a democracia ocidental reine eternamente por lá.


Não quero minimizar a dor e o sofrimento do povo ucranianos, que há muito tempo se encontram nas mãos de oligarcas, políticos corruptos e tentativas de terem suas terras furtadas para ceder de corredor militar para a OTAN. No entanto, precisamos ser racionais e abrir nossos olhos para o que acontece hoje no mundo inteiro, sem distinguir aqueles, novamente, pela cor da pele, pela religião ou pelo país onde nasceu, isso não é justo e nem ético, vidas são vidas, guerras são guerras e refugiados são refugiados, ninguém escolhe ser um, ninguém deveria ter a dor trasformada em camarote para a grande imprensa e muito menos seu sofrimento sendo transformado em discurso de ódio por quem deveria os ajudar e parar de bombardear seus países de origem.


É necessários sermos militantes a todo o mundo e não selecionar nos dedos que deve ter prioridade ou não, cortar o mal da ignorância pelo mal, e jamais generalizar um povo pelas atitudes de seus governantes ou autocrátas, que se auto denominam "heróis do povo", achando confortável tirar vidas inocentes e vitimizar a própria caveira.



Por: Lybia Abaaoud/Beatriz D'angelo



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