Após a tomada de Cabul pelo grupo extremista Talibã e a retirada das tropas Estadunienses do território afegão, o mundo começou a prestar mais atenção nos primeiros passos que o novo governo do paÃs começava a tomar, em especial, em questão diplomática.
A Rússia, diferente de muitos outros paÃses, não reconheceu o governo talibã, porém, vem utilizando um tom mais ameno para se referir ao grupo, em especial, ao relembrar de como era difÃcil negociar com o antigo presidente afegão, Ashrafi Ghani, da qual Vladmir Putin se referiu como um "fantoche do ocidente". Os russos receberam há alguns meses em Moscou, vários representantes do talibã na tentativa de negociar relações econômicas, de paz e diplomáticas, tudo indicava que os dois governos já estavam dispostos a esquecerem o passado e virar a página, mas o talibã sabe que o interesse da Rússia fala mais alto a essa altura do campeonato.
Há um mês, o mundo acompanhou cenas chocantes de caos e desespero quando centenas de afegãos tentaram fugir do paÃs ao serem informados de que os extremistas haviam retornado ao poder. A situação das mulheres e das minorias virou pauta e uma possÃvel trégua na guerra que já durava 30 anos, gerou um certo alÃvio para alguns cidadãos que escolheram ficar, porém, o discurso mais moderado do grupo que hoje, já não é encarado como "potencialmente perigosos" para algumas nações, chamou a atenção do Ministério das relações exteriores da Rússia, que aceitou manter as embaixadas em Cabul, capital do Afeganistão, e, se possÃvel, enviar diplomatas russos para negociar sempre que possÃvel com o novo governo.
Os russos sempre ganharam notoriedade no cenário geopolÃtico mundial por combaterem a mão de ferro facções terroristas e protegerem governos que estavam ameaçados por rebeldes armados pelo ocidente, um exemplo mais recente disso é a SÃria, onde o governo de Vladimir Putin foi ovacionado por conseguir segurar Bashar Al Assad no poder e expulsar o Estado Islâmico de regiões dominadas. Na Chechênia, os russos combatem até hoje grupos fundamentalistas que querem separar a pequena república Caucasiana do sul do paÃs e, para isso, praticam atentados terroristas mortÃferos.
Mas no Afeganistão a história é outra. A desastrosa e vergonhosa memória dos anos 80 ainda assombra o governo de Moscou.
Em 1979, a então União Soviética enviou tropas ao Afeganistão para apoiar o regime comunista de Babrak Karmal, no entanto, ao mesmo tempo que muitas coisas boas foram revolucionando aquele paÃs pobre do coração asiático, as crÃticas do resto do mundo não passaram despercebidas. A derrota dos soviéticos foi rápida e clara, os Mujahedins (guerrilheiros sagrados), que posteriormente deram origem ao talibã, expulsaram os russos do paÃs e muitos acreditam que esse fato marcou tanto a URSS que culminou em seu fracasso, no fim dos anos 90. O que começou como uma invasão para seguir fortalecendo um regime amigo durou nove anos e custou a vida de milhares de soldados soviéticos.
Os russos afirmam que não irão enviar tropas para o Afeganistão (o motivo é perceptÃvel) e é bem provável que Moscou ajudará economicamente o paÃs para que ele possa ser reerguido aos poucos, mesmo que novamente sob um perÃodo de medo e tensão. A China entrará nesse xadrez diplomático em breve pois o partido comunista já deixou claro a sua posição em relação ao talibã e nunca escondeu a sua disposição em manter relações com os afegãos. Tendo esses dois fortes e poderosos aliados econômicos, polÃticos e bélicos, os talibãs se tornarão uma potencial ameaça e preocupação para os EUA, uma vez que entra na zona vermelha e acende o alerta de que a nação mais poderosa do mundo, está em conflito com o seu próprio passado e com os frutos de seu jogo imperialista moderno.
O Afeganistão pode fortalecer a sua economia e se tornarem mais influentes no cenário mundial e internacional, é uma surpresa que os talibãs que farão isso, mesmo que em um futuro hipotético, mas se analisarmos as situações que levarão a isso, não é impossÃvel pensarmos que a ordem em Cabul chegará primeiro de fora e o sinal de que a guerra naquele paÃs tão sofrido se cessará, não está tão longe de acontecer.
Por: Lybia Abaaoud/Beatriz D'angelo
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