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"O acerto de contas de uma mãe" e as reflexões sobre a sociedade americana moderna

O acerto de contas de uma mãe: a vida após a tragédia de Columbine é um livro escrito e publicado por Sue Klebold em 2016 que conta a história pessoal de um dos assassinos que chocou os EUA em 1999, após um ataque na escola de ensino médio Columbine. Sue é mãe de Dylan Klebold, o rapaz que, junto com seu amigo adolescente, atirou e matou 13 pessoas no colégio onde estudavam e por fim, cometeram suicídio. Os motivos do atentado até hoje são um mistério.

O livro começa com as lembranças dolorosas de Sue e se desenrola nas harmônicas memórias que ela ainda tem do filho mais novo. Ao ler essa obra, embarcamos em seu universo pessoal e também em uma jornada sobre os conflitos na adolescência, depressão, isolamento e timidez, Sue fez questão de consultar os melhores especialistas no assunto dos EUA e publicar o material em seu livro, até mesmo para ajudar pessoas que precisam de uma ajuda psicológica imediata, algo que me chamou bastante a atenção durante a leitura. Ela também usa o espaço para desabafar com as famílias das vítimas de seu filho, com os sobreviventes e até mesmo com Dylan, como se fosse uma conversa pessoal entre eles dois, as coisas que ela nunca pôde dizer.

O livro me fez refletir e ir atrás de duas questões que, após o massacre de Columbine, entrou muito debate nos EUA. A primeira é sobre saúde psicológica. Na época do crime, era quase impensável um programa que discutisse ou oferecesse ajuda psicológica nas escolas e universidades americanas, o assunto era um tabu ( assim como o Bullying ) e pouco se conhecia sobre o tema "saúde mental", era como se falar sobre isso, significasse que você tinha depressão e não suportasse mais viver em sociedade, algo um pouco diferente de hoje, em que sabemos que esse assunto é extremamente importante para TODAS as pessoas e que deve ser tratado sem preconceitos.

Os EUA é o segundo país no mundo com a maior taxa de suicídio e um dos poucos que até a metade dos anos 2000 se discutia abertamente sobre os cuidados com a saúde mental na adolescência. Um estudo realizado pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), um órgão do governo dos EUA , em 2018, afirmava que a taxa total de suicídio aumentou em 30% em mais da metade dos estados americanos desde 2001. O aumento médio em todo o país é de cerca de 25%. Isso significa que, em média, 16 de cada 100 mil americanos decidem acabar com suas próprias vidas todos os anos. Em 1999 esse número dobrava, eram 10% a mais que nos dias de hoje, e as maiores vítimas? jovens entre 15 e 34 anos e de classe média. O filho de Sue, Dylan, correspondia a todas essas estatísticas, quando faleceu, o rapaz tinha apenas 17 anos e pelo menos 3 anos encarando uma forte depressão. Como esses números felizmente caíram hoje devido a um suporte maior às vítimas de depressão e debates com o tema, muitos países já se vêem preparados para elaborarem medidas que possam ser eficazes na luta contra esses estigmas, um exemplo disso, é a campanha Setembro amarelo.

A segunda reflexão que tirei do livro e que também é abordada pela autora é a questão da posse de armas nos EUA hoje. Não é novidade para ninguém que os cidadãos americanos têm o direito de comprar, portar e carregar armas nas ruas livremente, isso não é uma coisa nova mas também é um dos assuntos mais polêmicos do país hoje me dia, especialmente depois dos últimos protestos que acabaram com a morte de um homem negro ( em maio desse ano ) e com um afro americano baleado sete vezes, ambos os casos, por policiais brancos. Um rapaz de 17 anos foi preso por matar duas pessoas que protestavam pacificamente na cidade de Kenosha, há duas semanas. A arma era dos pais do garoto e por ele ser menor, mal poderia andar armado pelas ruas da cidade, no entanto, a polícia só fez alguma coisa após testemunhas precisarem provar que ele atirou aleatoriamente em dois meninos, se aproveitando do caos que tomava conta nos bairros de Kenosha.

A impunidade dos chamados "cidadãos de bem" sempre foi muito conveniente para elite e para a direita dos países ocidentais, não a toa, a principal causa da morte de muitos americanos hoje é decorrente de arma de fogo, seja ela manuseada de forma correta ou não, agora outros países mais desenvolvidos como Suécia, Alemanha, Espanha ou Rússia, onde o desarmamento é lei, as principais causas de morte são de causas naturais, não são nem de homicídio. Engraçado, não? Não importa se você é contra ou a favor, a questão que apresento aqui são fatos retirados de anos de pesquisas, estudos e monitoramentos que comprovam que Sim, saúde mental fragilizada, Bullying e direito a posse/porte de armas, são gatilhos para pessoas mais vulneráveis, porém, o gatilho puxado por elas, é mais mortal e gera consequências muito mais profundas.



Os EUA é o país mais armado do mundo. Estima se que existem cerca de 300 milhões de armas em circulação, um número maior do que a população adulta do país.

foto: Getty images


Por fim, quero fazer a recomendação de leitura, o livro é incrível do começo ao fim, quase difícil de parar de lê-lo, a história é muito triste mas serve como um exemplo para mães, pais, filhos e para a própria sociedade, cada vez mais mergulhada na incoerência e na despreocupação com os jovens. O livro é um pouco repetitivo já que serve também como um desabafo para essa mãe , no entanto ele me marcou de uma forma positiva, me fazendo ir atrás desses estudos e dessas pequenas reflexões que apresentei nesse texto. Espero que gostem :)



Por: Lybia Abaaoud/Beatriz D'angelo


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