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As lições políticas de Round 6

Provavelmente você deve ter passado as últimas duas semanas observando um grande número de postagens nas redes sociais sobre o novo fenômeno da Netflix, "Round 6", ou "Squid Game".

A série Sul Coreana bateu o Record da mais assistida na plataforma e claramente fez críticas e explicações plausíveis de serem debatidas fora da ficção. Seria a democracia um sistema bom, ruim ou simplesmente injusto? aquela experiência funcionaria somente na Coréia do Sul?

A sinopse é que pessoas endividadas são levadas para um lugar misterioso e convencidas a jogarem seis jogos, sendo que somente um dos jogares será o vencedor e levará para a casa 45 bilhões de wons (moeda coreana), além de conseguirem, claro, quitar suas dívidas. O que os 456 jogares não sabem é que as brincadeiras que parecem infantis e inocentes, na verdade são jogos mortais e ultra violentos, onde a sobrevivência, a ordem e a obediência são levados em consideração para que eles vivam ou morram.


Para quem assistiu a série, Round 6 explica como que um jogo injusto por definição é aceito pela maioria, já que eles lá dentro têm a opção de irem embora de "mãos abanando" (isso após o primeiro jogo ser realizado) ou permanecerem como "subordinados" àquelas condições amedrontadoras e selvagens para um benefício próprio, sem se importarem com as vidas perdidas e com o que verão dali em diante. Fica claro que a ganância, o egocentrismo e também a falta de empatia são marcas registradas até o fim da série naquele cenário.



Diante de um momento de indecisão, onde alguns desejam ir embora (spoiler) e outros permanecerem, há um empate e naquela cena é possível refletir sobre o conceito de "injustiça" e precisão, já que todos os que votam, ignoram ou ganância pelo dinheiro ou a selvageria dos jogos que os esperam, isso pensando no que cada um deseja como benéfico, isso que existem mais de 400 pessoas naquele ambiente frente a homens mascarados e armados.


Quando há o voto final de desempate e fica decidido que todos vão para casa, abdicando ao menos que por alguns dias aqueles jogos, a expressão no rosto de cada um fica evidente, o mesmo acontece em períodos de eleições, partidas de futebol ou simplesmente um concurso qualquer, são exemplo onde podemos debater a democracia e se ela realmente existe como um sistema injusto aos nossos olhos e sob os nossos valores.


A Córeia do Sul é um país capitalista, tem um dos maiores exércitos militares do mundo, uma renda equivalente a 1,6 trilhões anual e visto como um exemplo de democracia para os países ocidentais, mas por que é assim? por que enxergamos tanta perfeição nesse sistema e varremos para baixo do tapete críticas tão fortes que produções locais como "Parasita" e até "Round 6" fazem e escancaram visivelmente para nós?


A resposta é que a Democracia é um pilar fraco sustentado por um concreto de vigas fortes, apenas isso, ela requer subordinados e requer violência para que seja mantida, mas não violência armada, uma ditadura explícita ou um ambiente miserável, ela requer uma maioria forte dominando uma minoria fraca, uma elite sobre uma classe inculta e uma única manifestação onde a disputa é a seguinte... Ganha aquele que tiver a voz mais bonita e gritar mais alto. Essa é a democracia que precisamos sustentar para seguirmos em frente em um mundo onde o capitalismo e o autoritarismo dominam.


A série traz essas críticas constantemente, incluindo uma cena onde uma das protagonistas, que é uma refugiada da Coréia do Norte (país com um regime extremamente autoritário e repressivo) é questionada se a vida no Sul é melhor que a de onde ela vem, uma vez que o discurso que usamos para atacar nações não capitalistas é de que "aqui você tem comida, dinheiro e liberdade de expressão", e a jovem não sabe responder, exatamente pelo fato daquela simples pergunta soar como uma incógnita para ela.


Que democracia é essa em que para obter comida você depende de um emprego que só consegue às custas de muita exploração e processos burocráticos? De que dinheiro estamos falando quando sabemos que estamos vivendo sobre um efeito de pirâmide nesse exato momento? e a qual liberdade expressão estamos nos referindo quando já expliquei que para se ter voz, isso depende da melodia que você apresentar para quem você "deve serviço" na sociedade em que você vive.


Bem, a série grita isso quando demonstra o domínio dos mais fortes sobre os mais fracos, e o medo de uma "rebelião" ser generalizada é tão forte que em um determinado momento, os soldados são obrigados a intervir para que não haja uma matança de seus "subordinados".


Apesar de tudo isso, a série é incrível e de uma narrativa brilhante, muito além de uma ficção violenta e selvagem. É contraditória na crítica assim como na realidade, já que nós mesmos aceitamos ser subordinados a tal sistema ou ideologia, afinal, não preciso reforçar que os todos os jogares resolveram voltar espontâneamente para aquele buraco prisional depois daquela votação tensa, não é mesmo? E na vida real, você sabe que aceita ser subordinado a alguma coisa e é comum que esperamos benefícios disso, mas quais e por que? quais são os nossos limites dentro desse sistema e o quão valentes somos para enfrentá-lo caso precisemos?


Por: Lybia Abaaoud/Beatriz D'angelo

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