Mundo árabe: como o Coronavírus pode mudar o rumo dos conflitos na região?
- thesidearticles
- 30 de abr. de 2020
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Atualizado: 7 de mai. de 2020
Até o momento, 231 mil mortes pela COVID-19 foram confirmadas no mundo. Os países mais afetados são os EUA, a Espanha, a Itália e o reino unido, esse último, contando com cerca de 27 mil mortes.
No Oriente médio, o Irã vem quebrando o recorde com mais de 6 mil mortes, claro que para nós, agora um dos países mais afetados no mundo ( Brasil ), esse número é bem pequeno comparado ao que estamos vendo na Europa, mas para termos uma noção, países como Egito, Líbano, Síria, Jordânia e Israel, vêm registrando pouquíssimas mortes em decorrência do novo Coronavírus, e isso se deve a uma série de fatores, desde o fechamento imediato de suas fronteiras, até o cumprimento do isolamento social, respeitado pela população daquela região.
Não existem dados concretos da totalidade de óbitos nos países árabes, acredita se que sejam pouco mais de 8.000 de acordo com um relatório feito pela OMS há uma semana, mesmo assim, suponhamos que a possibilidade dessa região ser a menos afetada, é muito alta, especialmente em nações onde a circulação de estrangeiros é muito menor e onde o tratamento de infectados é imediato, como é o caso da Turquia e do países do golfo.
Logo no início da crise, as nações unidas pediram um cessar-fogo imediato nas áreas de crise, e no logo no começo do mês, o secretário geral da ONU, António Guterres, afirmou que "o pior ainda estaria por vir nos países que foram devastados por conflitos bélicos". No Iraque, onde a guerra civil que já deixou mais de 207 mil pessoas mortas finalmente teve seu fim, os americanos retiraram por completo suas tropas de cidades invadidas no ano de 2003 mas temem uma possível volta do grupo terrorista Estado Islâmico, que não vejo mais como uma ameaça persistente porém que podem, ao menos, se aproveitar do período de risco mundial para organizarem novos ataques, uma vez que sabemos que é no vazio de poder de uma guerra, que esses grupos radicais ressurgem. Na Síria, onde a guerra civil teve seu fim e sua insurgência ainda segue, rebeldes e forças do governo ainda se combatem nas fronteiras do país e os bombardeios foram cessados no fim de março, no entanto, o futuro perigo que a Síria pode enfrentar pode ser nas negociações de paz com países envolvidos em seu conflito. As mudanças positivas que podem ocorrer nesse país árabe são o cessar-fogo provisório, a retirada das tropas inimigas ao regime do território sírio e também a diminuição de mortos, que por incrível que pareça, foram vítimas da guerra e não do coronavírus, acredito também na diminuição do número de refugiados para países vizinhos.
O caso da Líbia pode ser o mais preocupante de todos. Desde o início da guerra civil em 2011 e a morte do líder Muammar Gadaffi, o país não encontra um dia de paz e tranquilidade em suas ruas. De um lado, grupos rebeldes tentando tomar o poder com o apoio da perigosa "Irmandade muçulmana" (movimento radical islâmico com base no Egito)
e do outro, ex soldados Gadafistas que lutam para restaurar a soberania perdida na Líbia graças a uma conspiração americana e sionista. O país ainda está um caos, sem um governo fixo e com milhares de refugiados espalhados pelo continente africano e pelo mundo árabe, não encontro saída para esse povo, que cedo ou tarde, podem se tornar presas fáceis da COVID e novamente dos extremistas, dispostos a rasgarem a constituição Líbia e se aproveitarem da crise mundial.
Em uma visão geral, o coronavírus não atingirá tão profundamente ( e positivamente ) o mundo islâmico, porém, trará uma trégua para os regimes imperialistas que sempre se interessaram pela região e pelo ressurgimento de movimentos ultra-nacionalistas, fanáticos e também fundamentalistas, a própria Al Qaeda já montou novos campos de treinamento no Iêmen e no Sudão para uma possível ofensiva contra os regimes desses países que agora não irão mais encontrar uma proteção em soldados ocidentais e muito menos no seu próprio exército, carente de ajuda bélica externa. A Rússia também já admitiu uma trégua nos conflitos armados nos países arrasados pela primavera árabe.

Checagem de temperatura em hospitais e estabelecimentos públicos na Arábia saudita.
foto: anadolu agency
Acredito que tanto as nações unidas quanto os países ocidentais envolvidos diretamente nos conflitos do mundo árabe, não se preocuparão com medidas alternativas para colocarem um fim nessas insurgências, que vem dando pauta para os noticiários desde o ano de 2011, nem sequer propõem sugestões para uma possível nova onda de ataques terroristas que podem fragilizar ainda mais essas nações ou uma melhora econômica, já que quem causou esse desastre todo, não se pergunta em como reparar financeiramente todo o dano causado nesses países,e aqui não falo somente dos grupos insurgentes que também foram responsáveis por inúmeras barbaridades cometidas contra o própria povo. Vejo o mundo árabe como uma futura "Terra de ninguém", um lugar onde nem a Rússia, nem a França e nem o gigante "senhor da guerra" arriscam erguer as mangas para restaurarem um patrimônio perdido, as vidas que foram ceifadas em anos de conflitos armados, a economia e até mesmo um futuro rompimento de relações diplomáticas, que sabemos que graças ao petróleo, elas funcionam muito bem... Por falar nisso, o preço do Petróleo sofreu uma queda brusca de 30% em menos de um mês e fez os seus maiores exportadores pagarem uma dívida alta com isso, tudo graças a pandemia. O oriente médio, maior exportador de petróleo do mundo, já vem sentindo os impactos da crise, que pode ser o problema mais grave que os governos árabes vão enfrentar e talvez tão perigoso quanto a própria COVID-19.
Por: Lybia Abaaoud/Beatriz D'angelo.
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