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Maradona: no campo da ideologia, quem marcava o gol era a consciência de classe

Na última quarta feira (25), 2020 nos surpreendeu novamente com mais uma notícia triste e, até aquele momento, inacreditável. O ex futebolista argentino, Diego Maradona, faleceu aos 60 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória em sua casa de repouso, na cidade de Tigre, Buenos Aires. O craque tinha um longo histórico de depressão, abuso de álcool e drogas e também já vinha sofrendo com uma saúde muito fragilizada, mas ninguém queria acreditar que um dia, Maradona viesse perder essa dura batalha.

O argentino foi velado na Casa Rosada (palácio presidencial) há dois dias e enterrado em Bellavista, um cemitério localizado na periferia de Buenos aires, onde estão sepultados os seus pais. Estima se que quase um milhão de pessoas foram se despedir de Maradona durante o seu velório.


Porém, enquanto muitos lembram quem foi essa grande personalidade da nossa américa latina dentro de campo, o que não deixa de ser uma coisa importante, alguns outros fazem questão de falar quem ele era fora dele, por trás das câmeras e longe das drogas. Maradona era muito politizado, não escondia sua admiração por grandes nomes do continente e da esquerda, como Vladmir Lênin, Hugo Chávez, Fidel castro e Che guevara, este último, virou uma tatuagem no braço esquerdo do camisa 10. Em 2006, apoiou a segunda candidatura do ex presidente Lula no Brasil, foi o braço direito na campanha da também ex presidente da Argentina, Cristina Kirchner, se encontrou diversas vezes com o ex líder socialista Hugo Chávez, da Venezuela e em uma viagem à Palestina em 2013, fez questão de dizer ao ex primeiro ministro, Mahmoud Abbas, "Meu coração é palestino e estará sempre com vocês", reconhecendo a luta desse povo que tanto sofre nas mãos dos sionistas apoiados pelos americanos.


Maradona provocou inúmeras reações nas pessoas e até mesmo em seus fãs que dificilmente se interessavam em procurar conhecer os viéses de seu "ídolo" enquanto este dava entrevistas criticando George Bush e também o antigo Papa João Paulo II. Ele disse: "como um Cardeal pode viver embaixo de um teto dourado depois de viajar para tantos países pobres, miseráveis e beijar aquelas pessoas como se elas só precisassem daquilo?." No entanto, alguns anos depois, quando seu conterrâneo, o Papa Francisco, assumiu o Vaticano, a igreja reconquistou sua confiança.



"De agora em diante sou o capitão do time de Francisco", lembrava o astro.

FONTE: VaticanNews


O futebol como um todo sempre adotou uma política democrática e anti autoritária, Maradona se tornou uma figura importante pois não tinha medo de explicitar tudo isso e deixar claro sua postura anti imperialista, não à toa, participou de um comício em 2005 vestindo uma camiseta que não agradou nada ao ex presidente George W. Bush, apesar dessas atitudes, mal vistas por alguns, Maradona admirava Barack Obama.


Atualmente, torcidas auto denominadas Antifas e progressistas se unem nos estádios do mundo todo e nem esperam o momento do Gol ou da vitória de seu time para erguerem bandeiras com mensagens políticas ou dirigidas a um determinado governo, como foi o caso da torcida venezuelana em uma partida de 2016, que pedia "a queda de maduro" durante um momento em que grande parte das pessoas que estavam alí, nem sequer imaginavam que o líder venezuelano estava no meio da arquibancada. Casos parecidos aconteceram no brasil recentemente quando manifestantes/torcedores aproveitaram o momento da transmissão televisiva para lançar um "fora, Bolsonaro" em pleno jogo.


O futebol também é um terreno fértil para politização de questões como racismo e LGBTfobia, claros exemplos rodaram o mundo através de vídeos nos últimos dez anos, um famoso caso, foi o do jogador Daniel Alves, da seleção brasileira, durante um jogo na Espanha, onde um torcedor lançou uma banana para dentro do campo e a atitude do jogador, que é negro, despertou a solidariedade do mundo todo. Se não fossem as manifestações ocorridas após o fim dessa partida polêmica de Alves, o caso passaria batido na imprensa Espanhola e os agressores indiretos do jogador, sairiam impunes, como no Brasil.


Minha conclusão é o que poderia definir o título deste artigo, é passar exemplos de que sim, o futebol é um campo politizado e sim, a consciência de classe é a palavra chave para desarmar o argumento de que "política, futebol e religião não se discutem", se discutem até demais. Qual era uma das formas de manifestação mais velada e ao mesmo tempo mais famosa durante o exercício de regimes autoritários na Europa e na américa latina? o Futebol. Onde falava-se de política e discutia pautas sociais fora das ruas, uma vez que a repressão era extrema? em campo, quando as câmeras do mundo todo se voltavam para aquele gramado verde, mostrando a expressão de jogadores indignados com tal questão e insatisfeitos com a famosa política "pão e circo" de certos países. Quem eram os maiores inimigos do Futebol e os primeiros a atacarem quando este se posicionava sobre questões chaves? a igreja e seus financiadores fundamentalistas, geralmente de extrema direita, como foi o caso da Ku Klux Klan, nos estados unidos durante todo o século XX, organização esta que quase boicotou duas copas do mundo por motivos políticos e, acredite, de diversidade étnico-racial.


Então como afirmar que não podemos politizar o futebol quando temos um dos nossos maiores exemplos atuais que faleceu há três dias e nos deixou um grande legado fora de campo? o jornalista Espanhol, Quique Peinado, autor de "Futebol à esquerda" reforça que "o futebol é parte da sociedade e arma as consciências de classe das massas. O futebol nunca deve estar a margem dos poderosos (políticos) por um simples motivo, assim como as massas, eles querem controlar e corromper a única esperança de um povo, o futebol".



Por: Lybia abaaoud/Beatriz D'angelo.

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