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Iêmen: A guerra esquecida do mundo árabe

A crise no Iêmen, pequeno país localizado no sul da península arábica, já dura mais de seis anos e desde então, segundo o comitê humanitário das nações unidas, 240 mil já morreram em detrimento do conflito, da fome e da Covid-19 no país. A guerra também forçou quase três mil pessoas a deixarem suas casas em busca de uma vida melhor em outras regiões do mundo, e apesar de algumas delas obterem sucesso, dificilmente superarão as dores de carregar lembranças obscuras e terríveis, especialmente as crianças.


A crise que hoje vemos pela TV tem suas origens na primavera árabe, que começou no ano de 2011 mas que até então, poucos se iludiam achando que um dia, ela chegaria no Iêmen e causaria ainda mais destruição em um país tão miserável, pois chegou. Em 2015, a Arábia Saudita e seus aliados, Emirados árabes, Estados unidos e França, assinaram um acordo de coalizão que dava abertura para essas potências formarem bases militares no país e também o controlarem por terra e ar. O medo maior no Iêmen, era de que os Houtis, grupo majoritariamente xiita e apoiado pelo Irã, chegasse ao poder e controlasse regiões estratégicas no país, expulsando assim, inimigos sauditas e desestruturando a geopolítica local.


A revolta popular que acontecia naquele ano, também tinha o foco de tirar do poder, o presidente Ali Abdullah Saleh, sobre denúncias de corrupção e colaboração com grupos extremistas externos. Ele fugiu do país mas deixou no cargo o seu sucessor, Mansur Hadi. Supunha-se que a transição política levaria à estabilidade, mas o presidente Hadi enfrentou diferentes problemas, entre eles, ataques da Al-Qaeda e de um movimento separatista no sul,além de corrupção, insegurança e o fato de que muitos militares seguiam sendo leais a Saleh. Os Houtis também promoviam diversas rebeliões para tirar Saleh do poder, uma vez que este, era apoiado pela Arábia Saudita.


Em 2015, os rebeldes tomaram a capital, Sana, e se instauraram no poder, fazendo novamente um segundo presidente se exilar e fugir do país com medo. Os houtis passaram a ser bombardeados e atacados pelos vizinhos sauditas como forma de retaliação ao processo de "Impeachment" do presidente Hadi. Por causa dessa desordem no país árabe, a ONU gerou inúmeros relatórios condenando ambos os lados da batalha no Iêmen e concluindo a parte mais desumana do conflito. Um saldo de mais de 240 mil mortos, 75% de Iemenitas necessitando de assistência humanitária urgente, incluindo alimentos e água potável e 400 mil crianças em estado de desnutrição, muitas delas, órfãs.


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Como se não bastasse, a rede terrorista Al Qaeda, responsável pelos atentados terroristas de 11 de setembro, formou bases de treinamento em algumas regiões do sul do país e convocou militantes de várias partes do mundo para treinarem ali. Uma curiosidade é que os responsáveis pelo ataque ao jornal francês Charlie Hebdou, em janeiro de 2015, foram treinados pela filial da Al Qaeda no Iêmen, fazendo com que, após o fato, as forças de coalização dos países europeus bombardeassem incansavelmente o país árabe por dias, ocasionando centenas de mortes.


A rede terrorista se aproveitou do caos gerado pela então primavera árabe para tentar forçar os combatentes a chegar à capital e tomarem o poder a força. O Estado Islâmico também chegou ao Iêmen nesse meio tempo e provocou diversos ataques terroristas com o intuito de assassinar os seus rivais Houtis e tentar remove-los do poder. Esse conflito também tem um fundo religioso, pois enquanto os houtis são xiitas, uma linha minoritária da religião islâmica e apoiados pelo Irã, o Estado Islâmico e outros grupos extremistas árabes são sunitas, linha majoritária do Islã e apoiados militarmente e ideologicamente pela Arábia saudita, pelo Catar e pela Turquia. A rede "Al Qaeda da península arábica", como é conhecida, é atualmente o braço mais ativo e mais perigoso das facções terroristas mundiais depois da morte de Osama Bin Laden.



A desnutrição, miséria, fome e pobreza infelizmente são os principais marcos do Iêmen hoje

Fonte: The Basilisk



Claro que a extrema situação da Covid-19 no país não poderia passar batida. 888 pessoas morreram por causa da doença até agora no país e o número de casos aumenta todos os dias, neste exato momento, 4357 pessoas estão infectadas no Iêmen. A situação no país é catastrófica pois não há hospitais disponíveis nem postos de saúde para auxiliar tantas pessoas, em meio a guerra, o que resta é apelar por ajuda internacional e dos médicos sem fronteiras, que já fizeram e vêm fazendo um excelente trabalho no país.


O surto de cólera também pegou todos de surpresa em meio ao caos já no ano de 2016. Um ano depois, o esgoto da capital iemenita parou de funcionar e o número de casos aumentou, especialmente em crianças menores. A devastação dos sistemas e instalações de Infraestrutura, saúde, água e saneamento do Iêmen pelos ataques aéreos da coalizão liderada pela Arábia Saudita levou à disseminação da doença. Ataques aéreos da coalizão liderada pela Arábia Saudita estão deliberadamente visando os sistemas de água. A ONU acusou a coalizão liderada pelos sauditas de "total desrespeito pela vida humana".


Apesar da gravidade, o conflito no Iêmen tem sido descrito como "guerra esquecida" pela escassa atenção que tem recebido do resto do mundo. O que acontece ali pode exacerbar as tensões na região. Os países ocidentais temem que haja mais ataques, à medida que a situação for ficando mais instável, ainda mais em decorrência do surto de coronavírus pelo mundo. É importante que haja informações precisas sobre o que acontece deste lado do mundo e como isso altera nossas vidas, afinal, quando o assunto é diplomacia, sabemos bem que todos nós uma hora nos envolvemos. Também podemos tirar muitas lições disso, o pouco que temos, talvez seja muito para aquelas crianças e pessoas que hoje já desconhecem a palavra "esperança" no Iêmen. Há também várias formas de ajudar o país e a população carente nesta crise interminável.


( A UNICEF vem fazendo um trabalho árduo em ajudar muitas crianças carentes no país, é a principal organização na linha de frente da guerra em ajuda humanitária)


( A CICV é uma organização sem fins lucrativos que, em parceria com a Cruz Vermelha, faz doações mensais ao Iêmen, em anos de conflito, doe o valor que quiser no site)



Por: Lybia Abaaoud/Beatriz D'angelo


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