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Gaddafi: Quem era o coronel líbio que há dez anos era assassinado pelo próprio povo?

Muammar Gaddafi nasceu na cidade líbia de Sirte, norte do país, banhada pelo mar mediterrâneo e que décadas atrás, havia sido "colônia de férias" dos invasores italianos. Gaddafi nasceu entre os anos de 1940 ou 1942, por ser de uma família beduína, não se sabe ao certo a sua data nem ano de nascimento. Era apenas um garoto oriundo do deserto, pobre mas que tinha um desejo de fazer história, independente de como ele começaria aquilo.

A adolescência do jovem Gaddafi foi marcada pelo alastramento da guerra fria e pelo processo de descolonização do mundo árabe. Gaddafi na época estudava teologia islâmica na universidade e serviu por um tempo no exército, participando de revoltas internas e no tempo livre, estudando sobre Marxismo, socialismo e sobre o momento que o mundo estava vivendo naquele período. Era visto como um rapaz tímido, solitário mas muito sonhador por aqueles que o conheciam.


No final da década de 50, precisamente em 1959, o coronel, junto com seus companheiros de trincheiras, tiraram do poder o então rei da Líbia, Idris, em um golpe de estado sem derramamento de sangue, coisa que dificilmente acontecia em um período pré revolução dentro uma nação, ainda mais se tratando de uma nação pobre como era a Líbia no passado. Na época, o coronel tinha apenas 27 anos.


PARA ENTENDER A HISTÓRIA DESSA GRANDE PERSONALIDADE, ASSISTA AO DOCUMENTÁRIO "O FILHO DO DESERTO" QUE CONTA TODA A TRAJETÓRIA DE MUAMMAR GADDAFI E TAMBÉM DA LÍBIA



Ao assumir definitivamente o poder, Gaddafi se auto denominou chefe de estado, era sempre visto como uma figura excêntrica, que comparecia à reuniões importantes ou assembléias trajando roupas tradicionais beduínas e árabes, ele não se envergonhava de sua origem humilde, tanto que sempre fazia questão de visitar a vila onde havia nascido, mesmo depois de assumir o cargo mais alto da nação. Gaddafi também era o único líder do mundo islâmico naquele período que era visto com guarda - costas mulheres, ele mesmo que após tomar o poder teve como objetivo dar mais direitos às jovens líbias, incluindo direito ao divórcio, algo muito difícil para uma mulher naquela sociedade conservadora do norte da África, também concedeu o direito ao aborto e principalmente, orientava que a TV estatal líbia mostrasse propagandas incentivando as mulheres a trabalharem fora de suas casas e a servirem o exército. Um pouco antes do coronel ser assassinado, cogitou em colocar sua filha, Aysha, como sucessora, a primeira mulher a ter um posto tão alto no mundo árabe.


Não demorou muito para o então líder criar inimizades na região e também entre as potências no ocidente. Gaddafi oferecia apoio ideológico e até logístico para fomentar rebeliões anti imperialistas na África, no vizinho Chade e também na Irlanda. Seu inimigo número um era os EUA, seguido por Israel e Turquia, a quem via como um "traídor" dos povos muçulmanos. Gaddafi não escondia o desejo de ver o exército Israelense sob cinzas.

O presidente americano na época, Ronald Reagan, chamava o coronel de "Cachorro louco" e atribuiu doces apelidos ao chefe de estado da Líbia, país que já estava sendo encaixado no "eixo do mal".


Em 1986, Reagan autorizou um ataque aéreo a Trípoli e a Benghazi em resposta a um ataque a bomba contra uma discoteca em Berlim Ocidental, que matou dois militares americanos e uma mulher turca e que, segundo os Estados Unidos, teria sido realizado por agentes líbios. Os bombardeios americanos mataram 45 soldados, funcionários públicos e 15 civis. Entre estes estava uma filha adotiva de Gaddafi, que teria ficado bastante abalado.

As rivalidades de Gaddafi já não eram mais novidade para ninguém uma vez que em 1970 ele publicou o que viria ser sua "obra ideológica dirigida aos futuros revolucionários", o famoso "Livro Verde", que abordarei sobre mais para frente. Na obra, o líder apresenta sua filosofia político econômica do que seria, segundo ele, o socialismo árabe, estabelido em uma nação majoritariamente islâmica. Gaddafi acreditava que para tirar os países do oriente das trevas era preciso balancear as coisas, combater o liberalismo social (que ele acreditava ser parte das amarras do ocidente para afundar a moral do povo muçulmano) mas também combater o fundamentalismo que dava origem a grupos que combatiam a democracia e os pilares de uma sociedade que deveria se modernizar. Com isso, Gaddafi conseguiu estabelecer um estado de bem estar social, sendo dirigido sobre os princípios do socialismo. Vale ressaltar também que Gaddafi se inspirou ao longo de sua vida em Gamal Abdel Nasser, revolucionário Egípcio que fundou as bases do que viria a ser o nacionalismo árabe, mesclado à ideologia marxista. Veja um trecho de seu livro abaixo:

"Todo o homem nasce livre, mas sua liberdade começa a ser corrompida quando alguém passa a controlar aquilo que ele mais precisa, e tudo aquilo que ele precisa fundamentalmente é o que leva ele à escravidão e à submissão."



Gaddafi se encontrando com o ex presidente Barack Obama em 2011.

Fonte: The Guardian


Da década de 1990 em diante, as relações entre o Ocidente e a Líbia começaram a melhorar quando Gaddafi persuadiu o presidente sul-africano Nelson Mandela a entregar o suspeito responsável pelo atentado de Lockerbie. Gaddafi compartilhou então informações com os serviços de inteligência dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha e desistiu de suas pesquisas sobre armas nucleares a pedido do Ocidente, em 2003. Gaddafi e sua família, incluindo seu filho Saif Al-Islam, foram acolhidos em círculos políticos ocidentais, construindo amizades próximas com líderes europeus. As sanções americanas foram suspensas e Gaddafi recebeu então ofertas de contratos bastante lucrativos de companhias estrangeiras de petróleo que, mais uma vez, desejavam operar e se estabelecer no território líbio.


Quando tudo parecia melhorar, a primavera árabe se alastrou no Norte Africano e consumiu praticamente todo o território líbio, que não perdoou décadas de um regime autoritário mas que os fizeram beber das melhores águas possíveis durante quatro décadas. Gaddafi foi caçado pelos serviços de inteligência francês e americano que conduziram os rebeldes até o norte do país e os armaram rapidamente. Ao descobrirem o esconderijo do coronel, os militantes foram alertados e seguiram para Sirte, cidade natal de Gaddafi, lá ele recebeu tiros, pedradas e foi espancado até a morte, tudo isso em frente às câmeras. Muammar Gaddafi faleceu em uma quinta feira, 20 de outubro de 2011.


Seu legado foi essencial para constituir parte da história líbia, um país que até a metade do século XX era pobre, majoritariamente analfabeto e sem qualquer tipo de inovação que se encontrava aqui no ocidente, passou a ser o quarto país mais rico da África, integrou a Liga árabe, bateu recordes em alfabetização de jovens e se modernizou mais rápido que muitos países europeus no século passado. A Líbia tinha como sua maior riqueza o petróleo e o gás natural.


Hoje, o caos toma conta da nação, sem governo, sem segurança nas fronteiras, os líbios vêem o radicalismo islâmico crescer freneticamente e a economia cada vez mais no vermelho, o PIB caiu drasticamente e não é loucura dizer que quem realmente domina aquele lugar é o imperialismo local, já que os falsos protetores da nação chegaram mas não ficaram muito tempo, prometeram aquilo que não desejavam cumprir.



Por: Lybia Abaaoud/ Beatriz Dangelo.



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