França: cinco anos depois, como o combate ao terrorismo virou o foco na política francesa?
- thesidearticles
- 13 de nov. de 2020
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Em Novembro de 2015, a França sofreu o pior ataque terrorista de sua história desde a segunda guerra mundial. Terroristas do grupo Estado islâmico realizaram uma carnificina em seis pontos diferentes na capital Paris e mataram 129 pessoas, dando início a um longo e duro caminho que o governo precisou tomar para combater uma nova ameaça, camuflada e bem financiada. No mesmo ano, o país já havia sofrido um outro ataque terrorista, desta vez, na sede do jornal satírico Charlie Hebdou, ao todo, doze pessoas morreram. Todas as vítimas foram e estão sendo homenageadas em toda a França e recentemente, o país voltou a ser alvo do terror, desta vez sem homens bombas, caminhões ou fuzis, a barbárie deu espaço ao chamado "terrorismo doméstico" e com armas brancas, como aconteceu recentemente em Nice e em conflans sainte honorine, onde um professor foi decapitado por um extremista.
De 2015 para cá, o país vive em estado de emergência, o governo francês investiu bilhões de Euros em um pacote anti terrorismo e em combates diretos no Oriente médio, onde o país vinha liderando uma coalizão para bombardear áreas dominadas por extremistas e proteger os rebeldes que pediam a queda do líder sírio, Bashar al Assad. A chamada "Guerra ao terror" agora não é mais uma propaganda difundida pelos norte americanos após o onze de Setembro, a França precisou se apoderar do termo para combater o extremismo dentro de seu próprio país, de uma maneira grosseira e hóstil a política de integração e refugiados. O país da liberdade de expressão e símbolo da cultura ocidental, se transformou em um agressor da liberdade de culto, da Decência racional e ética e também da liberdade feminina, quando em 2016, uma lei passou a vigorar no parlamento proibindo as mulheres de irem à praia vestidas como quisessem, fosse de biquíni fosse de "Burca", ironia afirmar que nesse mesmo país, o sufrágio feminino se iniciou na década de quarenta.
Partidos de extrema direita começaram a ganhar força em todo o continente Europeu nos últimos dez anos, na França não foi diferente, em 2017 quem disputou a eleição com o atual presidente foi Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, partido que se opõe veementemente a imigração, a união europeia e também a livre circulação no Bloco, os discursos desses movimentos e de quem os defende geralmente se baseiam na Islamofobia, no antissemitismo e na concepção de que o Ocidente não é lugar para refugiados, que fogem de guerras, fome e miséria rumo a uma vida melhor em um outro país, e hoje, se veem na desgraça de aturar a sábia oralidade da extrema direita em culpar os imigrantes (todos eles) pelos males que eles não conseguem combater em suas próprias nações, vamos lembrar também que a França foi um país colonialista e quase toda a África foi dominada por reis e imperadores sanguinários, voltando para a Europa com riquezas exploradas em outros continentes e deixando quase 60% da população mundial na extrema pobreza devido as suas "sedes de poder e imperialismo", esses mesmos explorados se tornaram exploradores aos olhos de alguns europeus, inclusive políticos como Emmanuel Macron, que recentemente afirmou que "os franceses não irão se curvar às barbáries de certos povos", se referindo aos árabes.
Não são só esses movimentos ou os discursos do atual presidente francês que começaram a incomodar e a preocupar, mas sim a velha política xenófoba que alimenta muitos europeus e constroem cercas e muros do medo, como no caso da Hungria, antigo território socialista que após a desintegração da união soviética, cedeu espaço a extrema direita e a líderes autoritários, isolando severamente esse pequeno pedaço do Leste europeu. Após essa série de atentados terríveis e brutais, a França passou a associar a integração com a radicalização, o alvo eram os muçulmanos e os imigrantes sírios em especial, uma vez que qualquer tipo de ameaça ou ataque, já era rapidamente associado a um imigrante de origem árabe. O descuidado da política francesa atual, fez com que pessoas pacíficas e cultos tradicionais fossem associados ao radicalismo islâmico, tendo como consequência, os ataques de nacionalistas e fundamentalistas estrangeiros.
*https://www.youtube.com/watch?v=J9vw4GrtXP4 (Xenofobia na Europa moderna - canal Facamp)
A sociedade Francesa hoje não mudou nada, ela continua assombrada pelos fantasmas que ela mesma criou e continua afogada nas políticas seculares do velho continente. a idéia da Globalização, do socialismo, do neoliberalismo e da integração ainda assusta a nova geração da frança, isso só seria reversível se a própria política européia mudasse já que muitos países ainda continuam dando voz a partidos ultranacionalistas que sempre se mostram bem colocados em pesquisas eleitorais, sim, isso é algo tenebroso porém que revela as facetas do mundo atual, progressista e secular e ao mesmo tempo, obscurantista e altamente negacionista. os franceses ainda se preocupam com o terrorismo doméstico, que é quando um cidadão conterrâneo comete crimes e atentados violentos em nome de uma causa religiosa ou ideológica, os chamados "lobos solitários" para a mídia ocidental, eles são combatíveis, no entanto, a nova política europeia também seria?
RECOMENDAÇÃO DE LIVRO:
* Estranhos a nossa porta - Zygmunt Bauman
Por: Lybia Abaaoud/Beatriz D'angelo
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