No domingo passado (15), o mundo foi pego de surpresa quando o presidente afegão, Ashrafi Ghani, abdicou do cargo e deu espaço para que os extremistas do grupo Talibã ocupassem interinamente o poder. Ghani, que já estava sendo acusado de corrupção e de colaborar com os EUA para se manter no cargo mais alto do país, se refugiou nos Emirados Árabes e, de lá, deu uma declaração pedindo para que as potências mundiais interfiram no Afeganistão e tentem conter o avanço dos radicais. Já era tarde demais.
Em menos de 24 horas, o Talibã ocupou o palácio presidencial e organizou uma coletiva de imprensa onde já se denominavam os atuais "chefes" da nação e confirmavam a derrota dos americanos no país, isso pouco tempo depois do presidente Joe Biden permitir a retirada das tropas estadunienses do Afeganistão, após 20 anos de ocupação. O assessor do grupo extremista falou com inúmeras agências de notícias e prometeu suavizar o discurso em relação aos ocidentais, também disse que os direitos das mulheres seriam assegurados, que elas não seriam obrigadas a usar a burca e que protestos não seriam reprimidos, mas era tudo Marketing, na verdade, o talibã estava mesmo era preocupado em passar uma boa imagem depois de tanto tempo sobre as trevas.
Nessa semana, a imagem de afegãos desesperados tentando fugir do país comoveu o mundo. Muitos saltavam de aviões em movimento, a imagem era chocante, alguns imploravam para entrar em países vizinhos, a foto de um avião americano lotado rodou nas redes sociais e o drama dos refugiados agora entra em cena na política externa novamente. Os que ousaram protestar contra o novo governo foram presos, agredidos e até mortos, contrariando todo aquele discurso que o assessor de imprensa do grupo havia feito há uma semana.
Mas afinal, quem são os Talibãs e o que eles querem?
O Talibã é um grupo fundamentalista islâmico que surgiu no sul do Afeganistão em meados da década de 70 com o intuito de lutar contra as forças soviéticas que ocupavam o país naquele período. O grupo foi fortemente armado pelos EUA e nunca escondeu o desejo de tomar o poder na nação situada no coração da Ásia.
Os talibãs não são árabes, correspondem a uma etnia afegã chamada Pashtun. É devido a isso que muitos de seus costumes "estranhos" são provenientes da cultura dessa tribo, representada por 90% da população do afeganistão.
Os terroristas tomaram o poder em Cabul, capital do país, em 1996 através de um golpe de estado e permaneceram até 2001. Enquanto governaram, os extremistas aplicaram leis absurdas no país, proibindo as mulheres de trabalhar, estudar, sair de casa desacompanhadas, pintarem as unhas, proibiam os homens de raspar a barba e quem ousasse quebrar outras regras definitivas, poderia pagar até com a vida.
Com os bombardeios americanos após os atentados de 11 de setembro, o grupo foi derrubado e desde então se organizou e recebeu muita ajuda externa para se reorganizar e voltar ao poder, por isso era inútil pensar que o talibã realmente havia sido derrotado e fugido para o vizinho, Paquistão, ou até mesmo que eles tenham ficado mais "moderados".
Diferente da Al Qaeda e do brutal Estado Islâmico, o Talibã permanece e age somente no Afeganistão e no Paquistão e tem o objetivo de controlar permanentemente o país, o tornando um emirado islâmico, sob códigos de leis rígidos com interpretações exclusivamente deles, é válido dizer que os extremistas não seguem fielmente o livro sagrado do islã, o Corão, já que se baseiam em costumes tribais de sua etinia e falam a sua própria língua.
Como ficará o país agora?
Muito provavelmente o grupo tentará estabelecer relações diplomáticas com países da região, especialmente com a Rússia e com a China por uma questão estratégica e seguirá prometendo uma imagem mais moderada para o ocidente.
As mulheres seguirão na luta contra os terroristas e, assim como aconteceu com elas há 25 anos, o mundo do trabalho, da educação, da moda e até da cultura, ficarão novamente cada vez mais longe, o talibã sempre teve medo das mulheres pois sabem que educar uma é quase como armar uma população inteira, mas com a voz.
A economia do país está quebrada e agora seguirá sofrendo com sanções e racionamento de comida. Com o agravamento da crise pandêmica, o Afeganistão é um dos últimos países na lista da OMS a receber uma ajuda humanitária e sanitária, até para entrar no país é difícil, infelizmente.
Esse regime de medo permanecerá até que uma intervenção devida seja feita, independente de qual lado vier, ela ao mesmo tempo que assegurará a tranquilidade do povo afegão, o levará novamente à miséria e à perdição de uma nação que já não dorme há mais de 30 anos, uma terra aonde o tempo já não existe mais.
Mapa Político do Afeganistão. A cidade ao sul do país, Kandahar, foi base do Talibã por longos anos após a ocupação americana no país.
O talibã é originalmente um grupo organizado que lutava contra a ocupação comunista no Afeganistão. Eles eram chamados de Mujahedins (guerrilheiros), não eram radicalizados, no entanto, eram nacionalistas.
Enquanto esteve no poder, o talibã obrigou todas as mulheres afegãs, sem excessão, a usar a Burca. As mulheres foram as mais atingidas pelas leis cruéis dos terroristas.
Por: Lybia Abaaoud/Beatriz D'angelo